segunda-feira, 12 de abril de 2010

"O horto da minha amada", Alfredo Bryce Echenique


Título: O horto da minha amada (2005)
Autor: Alfredo Bryce Echenique
Editora: Dom Quixote, http://www.dquixote.pt/

Excelente livro escrito de uma forma muito divertida: estilo escárnio e maldizer. A forma de escrever de Echenique assemelha-se à de José Saramago (frases muito longas, com muitos apartes, notas e comentários) em muitos aspectos, apesar de ser bem mais corrosivo. É um retrato de uma sociedade conservadora, cheia de falsos moralismos e vazia, descrita contando a estória de Carlitos Alegre, um adolescente de 17 anos, estudante de medicina, muito religioso, filho de famílias bem instaladas e tradicionais, que se apaixona por Natália de Larrea, uma trintona divorciada e muito cobiçada pela elite política e financeira de Lima. Os amores de Natália e Carlitos são descritos com humor, mesmo os aspectos que levam um beato como Carlitos a envolver-se numa relação polémica, moralmente condenada pela sociedade. A forma como ele "obtém" a aprovação de deus, com conversas durante o sono (como a conversa que tem com deus antes de fazer amor pela primeira vez com Natália) ou até a sonhar de olhos abertos (conversa com a avó durante o seu funeral), é descrita em detalhe e de forma muito divertida: uma critica à moral da igreja pela sua falsidade.
Natália vive obcecada com a diferença etária entre ela e Carlitos. Tenta isolar o amado de todas as possíveis ameaças. Primeiro levando-o para o seu horto, onde tem a colaboração da criadagem e do motorista para manter Carlitos protegido. Depois levando-o para fora do país, para longe da família e amigos. Mas a relação não resiste a uma Natália cada vez mais velha e desconfiada das suas qualidades físicas. Por isso, quando Carlitos está fora em congressos médicos, recebe em sua casa jovens cada vez mais jovens (20-30 anos mais novos do que ela) como que para mostrar a si próprias que ainda os consegue atrair. A relação termina de forma abrupta, apesar de Carlitos conseguir uma carreira internacional de médico de muito relevo.
Um romance muito interessante de um autor que desconhecia.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

"Quase todas as mulheres", J.J. Armas Marcelo



Título: Quase todas as mulheres (2007)
Autor: J. J. Armas Marcelo
Editora: Dom Quixote, http://www.dquixote.pt/

Este é um livro que nunca mais vou esquecer. Um livro muito bem escrito, muito bem construído e muito inteligente. Conta a estória de Nestor Rejón, um artista do ouro, egocêntrico e genial, que vive obcecado pela beleza e pela perfeição. É assim que devem ser entendidas as suas paixões, que aliás começaram muito cedo, quando era ainda muito novo, pela mão da sua empregada Ela. Um menino  que obtinha como prémio de bom comportamento momentos de descoberta do corpo e da alma femenina. Momentos esses que perpetuou pela sua vida enquanto procurava, com a fé de um verdadeiro pesquisador de ouro, o filão que lhe havia de transformar a vida. É preciso estar preparado para perceber os sinais e detectar o ouro, saber identificá-lo, ser capaz de o agarrar e dár-lhe o devido valor. É essa a fé do verdadeiro pesquisador de ouro. Como dizia Nestor, deus visita-nos duas ou três vezes na vida (na verdade, eu penso que só nos visita uma vez, mas enfim...), mas temos de estar preparados para o perceber: a descrição das suas temporadas nas minas da Colômbia, do amigo pesquisador de ouro que lhe ensina o ofício, como lhe fala do "pó de ouro" ao mesmo tempo que ele tem um caso com uma colombiana que desaparece tão rapidamente como apareceu (como se fosse só mais um falso alarme) e lhe diz há sempre mais homens e mais mulheres. Verdadeiramente tocantes são o contraponto com a vida de Lampedusa e da sua obra "O Leopardo" que lhe chegam pela mão de Sarah D'Allara, uma "visita de deus" que ele soube mesmo perceber. É assim que lida com Tony Limpito (ex-namorado de Sarah, apostado em a reconquistar), aparentemente com ciúme e ciente da sua idade (sessenta anos), mas com a serenidade de quem sabe que encontrou o ouro e está preparado para lidar com ele.
Um romance verdadeiramente excepcional, de um autor que desconhecia e que foi um verdadeiro prazer descobrir.

Dez livros

Durante este pequeno período de férias li compulsivamente, e descobri dois autores muito interessantes: um peruano e outro espanhol. Não tem nenhum significado, ou talvez até tenha, mas dos meus últimos dez livros, sete foram escritos originalmente em língua espanhola (e seis vieram mesmo de Espanha). Somente dois foram escritos em língua portuguesa: um por Saramago e outro por Agualusa. E um escrito em inglês, o único que não é um romance.

Nos dez livros gastei cerca de 200 euros. Ou seja, o preço médio de cada livro foi aproximadamente 20 euros. Não sei o que dizer, porque não consigo pensar no preço de companheiros de vida, como são os livros. Mas talvez seja caro, e talvez valesse a pena reduzir o preço dos livros. É um investimento no futuro. Daqueles que valem a pena, porque fazem a diferença.

Um blog sobre livros?

Um blog sobre livros? Não é nada original.
No entanto, tenho o hábito de escrever sobre os livros que leio, deixando pequenas notas na página inicial do livro. É isso que vou partilhar aqui, esperando que os livros que passam pela minha vida também passem pela vossa. Espero que gostem.