sexta-feira, 9 de abril de 2010

"Quase todas as mulheres", J.J. Armas Marcelo



Título: Quase todas as mulheres (2007)
Autor: J. J. Armas Marcelo
Editora: Dom Quixote, http://www.dquixote.pt/

Este é um livro que nunca mais vou esquecer. Um livro muito bem escrito, muito bem construído e muito inteligente. Conta a estória de Nestor Rejón, um artista do ouro, egocêntrico e genial, que vive obcecado pela beleza e pela perfeição. É assim que devem ser entendidas as suas paixões, que aliás começaram muito cedo, quando era ainda muito novo, pela mão da sua empregada Ela. Um menino  que obtinha como prémio de bom comportamento momentos de descoberta do corpo e da alma femenina. Momentos esses que perpetuou pela sua vida enquanto procurava, com a fé de um verdadeiro pesquisador de ouro, o filão que lhe havia de transformar a vida. É preciso estar preparado para perceber os sinais e detectar o ouro, saber identificá-lo, ser capaz de o agarrar e dár-lhe o devido valor. É essa a fé do verdadeiro pesquisador de ouro. Como dizia Nestor, deus visita-nos duas ou três vezes na vida (na verdade, eu penso que só nos visita uma vez, mas enfim...), mas temos de estar preparados para o perceber: a descrição das suas temporadas nas minas da Colômbia, do amigo pesquisador de ouro que lhe ensina o ofício, como lhe fala do "pó de ouro" ao mesmo tempo que ele tem um caso com uma colombiana que desaparece tão rapidamente como apareceu (como se fosse só mais um falso alarme) e lhe diz há sempre mais homens e mais mulheres. Verdadeiramente tocantes são o contraponto com a vida de Lampedusa e da sua obra "O Leopardo" que lhe chegam pela mão de Sarah D'Allara, uma "visita de deus" que ele soube mesmo perceber. É assim que lida com Tony Limpito (ex-namorado de Sarah, apostado em a reconquistar), aparentemente com ciúme e ciente da sua idade (sessenta anos), mas com a serenidade de quem sabe que encontrou o ouro e está preparado para lidar com ele.
Um romance verdadeiramente excepcional, de um autor que desconhecia e que foi um verdadeiro prazer descobrir.

4 comentários:

  1. "(...) deus visita-nos duas ou três vezes na vida (na verdade, eu penso que só nos visita uma vez (...)"
    ...quando?
    porquê?

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  2. O autor refere-se ao encontro da pessoa certa.
    :-)
    Eu penso que esse coisa é única, não existem duas. Pelo que considero que a visita é feita uma vez... mas talvez esteja enganado.

    :-)

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  3. Não. Está certo. É só uma vez, mesmo.
    Se tivermos essa fortuna, é claro.
    Que pode ser transitória, mas deixa raiz; mistério. Permanece ao de lá de outros amores. Que vão e vêm, mas nunca são exactamente como esse. Perfeito e absoluto, como esse.
    Tem razão, sim.
    Nunca havia pensado nisso como uma visitação divina...
    Que maravilha...

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  4. Também penso isso Margarida. É mesmo só uma vez.
    A ideia da visita divina é atraente, e nem interessa que seja ou não verdadeira. Interessa somente que possa ser encarada assim.
    :-)

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